Depois de na última cruzada
contra os infiéis, por terras de Fátima, o exército dos cristãos, liderado pelo
Conde D. Francisco Antunes dos Trilhos, o Trilhador-Mor e donatário dos novos
trilhos, conquistados à bastonada à moirama, ter tido a estranha visão e
aparição, justamente antes da última refrega, de todos os sarracenos infiéis
usarem apenas polainas com folhos – há quem diga, os cépticos, que foi o
mero efeito psicadélico e alucinogénico do
excesso de consumo de pastéis de nata (há quem afiance que um deles terá
injectado 7 doses num só dia!) - e de essa visão, qual milagre de Ourique,
ter contribuído para a vitória final na reconquista da almejada – é favor não
trocar o e por i, pois só os árabes fazem a almijada- da cidade santa de
Fátima, onde os cavaleiros cristãos entraram triunfantes, embora ensopados até
aos ossos e outros apêndices corporais que o pudor impede de mencionar, os
anais históricos da reconquista, feitos pelo cronista da expedição, o amanuense
Fernão Lopes Esteves, e a tradição oral
têm vindo a exaltar o feito histórico que valeu a esse grupo valoroso de
cruzados o cognome dos reconquistadores, embora alguns gostassem mais de ser os
reconquistaprazeres.
É certo que o fizeram em condições
adversas, tendo alguns que partilhar o mesmo leito e uma mantazinha às florzinhas,
parecendo dois hippies sussurrando Make Love, Not War, mas quais
destemidos beligerantes, sempre sem esmorecer e enfrentando de peito aberto os
cães infiéis dos sarracenos das Polainas com Folhos. O problema maior foi que
mal tinha acabado o festival de Woodstock, das florinhas, começou um festival
de hard-rock , ou hard ronco, tendo estado em palco duas bandas, uma boys band,
conhecidos pelos Rockeiros ou Ronqueiros, liderada pelo célebre tocador
de trombone Heavy Metal Stevens, e uma Girls band, que roncou à desgarrada nos decibéis com as
rapazes. Houve quem passasse a noite a dançar o twist na cama e, alguns,
em desespero de causa, tentaram meter as almofadas nos ouvidos e ensaiaram
mesmo pôr a cama em cima da cabeça, mas o som do bicho da madeira ainda era
pior, pelo que entregaram a alma ao inferno sem mais resistência!
É claro também que a vitória final foi
obtida sob a protecção da nossa senhora Conceição, padroeira, patrona e patroa
de todos os passos, mesmo os dados em falso. Abençoada seja ela que nos fez
seguir todos as suas pisadas e ai de quem pisasse o risco, pois o Conde
Francisco, senhor de todos os trilhos novos e velhos, largava logo o seu brado
de guerra e era ver todos os cordeirinhos a regressar ao redil da pastorinha
Conceição. No entanto, a pastorinha, por vezes desvairava, e era vê-la a correr
e a desatar aos pulos, como se tivesse mastigado umas baguitas/barritas
especiais e drunfadas!
Tendo o Conde D.Francisco
Antunes, egrégio e destemido trilhador, dado ordem de retirada, pensou-se que a
moirama destroçada e desanimada, não voltaria a exibir por terras cristãs tal
peça de lingerie e retiraria, como cães, com o rabo -ou mais adequadamente, com
as polainas- entre as pernas para sempre destas terras regadas pelo sangue
vertido das bolhas dos pés dos indómitos cruzados.
Mas tal não aconteceu: transcorrida
uma semana, numa das caçadas semanais organizadas pelo ilustre Morgado dos
Trilhos, um dos sarracenos teve o despudor de anunciar-se mesmo antes do início
da caçada, gritando a plenos pulmões na página, que desafiava qualquer um dos
cavaleiros para um torneio de bastões. Logo o Conde mandou convocar todos os
seus cavaleiros, mesmo os que têm os bastões bastardos e estragados!
Pelo alvorecer, quando as trompas e as cornetas soaram, como sinal do
início da caçada aos trilhos, verificou-se que o cavaleiro sarraceno aparecera
disfarçado e ninguém sabia quem era. Alguns pensaram sugerir fazer-se uma
parada e uma revista íntima, para identificar tal personagem, procurando a peça
de lingerie escondida sob a armadura de Gore-Tex. Outros, olharam-se com
desconfiança e com suspeita, procurando sinais exteriores de abundância nas
barrigas das pernas. Outros, ciganos puros, acharam que olhando a dentuça
se poderia descobrir o renegado! No fim, prevaleceu a decisão do Conde que, com
a sua mão enluvada por uma luva feita da pelica mais fina e invisível, deu
sinal de partida.
Como sempre, O Conde, ladeado pelas duas
aias de pé ligeiro, que deixam todos cá atrás a gemer e a arfar, as fidalgas
que voam que nem galgas, Luísa Santos, Senhora dos Bastões/Barões
Arrebentados, e Luísa Lopes, Senhora dos Órfãos dos Bastões/Barões,
arrancou à desfilada por desfiladeiros e montes, levando atrás de si os seus
cavaleiros apeados. Mais do que a caça ao urso e ao javali, desta feita esta
foi uma montaria de caça fina ao Cavaleiro das Polainas dos Folhos.
Inicialmente, o Conde levou a quadrilha até aos lapiás, para vermos as
polainas de calcário e percebermos que a marosca havia de ser descoberta.
Mais tarde, ensaiou uma quadrilha de dança com
a condessa Dona Helena, uma espécie de tango com folhos, para ver se apanhava
desprevenido o maroto do sarraceno. Dançou o famoso tango El caminito
na sua versão portuguesa chamada “El trilhito”.
Depois decidiu fazer uma cena de serra ao
sarraceno, pela de Olelas, à procura do castro onde habitam os castrados,
que não podem usar a polaina pequena, como proclamou a luciferina Lucília, cujo
alter ego, Lucinda aparece por vezes às almas penadas deste mundo!
Foi aí que o cavaleiro Crucho gritou ter
visto os folhos no meio do matagal! Possuído por tal visão, investiu com a
lança e o pau contra o mato e paulada à direita paulada à esquerda, era vê-lo
sem compaixão a destruir o mato. Do meio do matagal vi sair um urso e uma ursa
apanhados em flagrante delito…de hibernação (que é que pensavam!) e ainda a
vestirem as peles à pressa; quatro raposas, uma com uma galinha na boca; uma
miríade de coelhos e coelhinhas playboy aos guinchos e com risos escarninhos a
gozar e a dizerem nhã, nhã, nhã, nhã! Traziam ligas e orelinhas côr-de-rosa,
mas polainas e folhos nem vê-los.
Lá se acalmou o Cavaleiro Crucho,
mas foi sol de pouca dura. Um pouco mais à frente foi novamente acometido por
uma visão e foi vê-lo à espadeirada e à paulada ao matagal. Desta feita, só
saiu um javali que foi dali até à ilha de Java aos ais, onde hoje os javalis
são conhecidos por javalais!
Mais
tarde, quatro dos valentes cavaleiros, quando viram uma lagoa encantada,
acharam que ele, qual Loch Ness, se escondia lá, e mergulharam com escafandros
na lagoa. Teve que se mandar a brigada de sapadores para os salvar, pois
esqueceram-se de retirar as malhas de ferro e já não conseguiam vir à tona!
Outro cavaleiro, espeleólogo
ilustre e destemido, mergulhou numa das grutas e quase ia atravessando a Terra,
correndo sério riscos de aparecer nos antípodas, na Nova Zelândia! A custo, lá
se conseguiu tirá-lo das entranhas da terra, carregado de vestígios do
Calcolítico mas nada de folhos nem de polainas.
Foi já em desespero de causa que o ilustre
Conde, fidalgo da melhor cepa de Touriga e Trilhiga Nacional, decidiu
chamar todos os carrascos do reino! Todos eles compareceram e tivemos que
passar por entre eles! A tortura nunca mais acabava: ele era picos, ele era
arranhões, ele era rasgões mas o raio dos folhos não haviam de chegar intactos
ao fim e haviam de denunciar o celerado!
O que é certo é que apesar da tortura,
ninguém se denunciou! Ele foi um concerto de gemidos, de gritos, de palavrões,
mas ninguém se revelou.
Obstinado, e depois do suplício
impiedoso, o Conde resolveu usar o seu último trunfo e jogar a cartada final:
levar-nos a subir a rua da Piedade, quando todos já queriam desistir, e ir até
à Igreja da Piedade! Claro que a intenção oculta era ver qual de nós é que não
se benzia em frente da igreja e assim descobrir o infiel. A desgraça é que por
cansaço ou outra razão misteriosa, ninguém se benzeu e o segredo manteve-se.
O conde ainda pensou usar a
última estratégia, a do azeite a ferver, mas que só tem êxito com extra-virgem,
muito difícil de encontrar nos tempos que correm e muito caro para os trocos
que a troica permite, pelo que teve que regressar são e salvo, mas derrotado,
ao seu reduto.
Quando todos já estavam convencidos que o
ordálio tinha terminado, eis senão quando a Condessa Dona Helena decidiu pôr toda
a gente a fazer uns alongamentos. Ingenuamente, quase todos caíram na
esparrela, sem perceberem que aquilo não era mais do que uma forma de mostrar
as formas e obrigar a mostrar os jarretes e os joanetes para ver quem tinha
polainas com folhos.
O Conde, matreiro, e ao contrário do que é
habitual, ficou sentado num ponto alto para catrapiscar os famosos folhos, mas
ficou a ver passar navios sem folhos, lá para as bandas do Alvor, onde a
alvorada vai ser com muitos folhos e velinhas da romagem a Fátima, tudo isto ao
som da música do tango La Cumparsita! Na minha função de vidente-mor do
reino, já estou a ver aonde é que a dança vai acabar!
Claro, ao som do estribilho do
famoso tango “El Trilhito”, que começa assim:
Ai Trilhos, trilhos
aos folhos
Por causa de ti
choram os meus olhos
Choram os olhos e as
nossas pernas
Que padecem dores
eternas
De verão ou de
inverno
É sempre o mesmo
inferno
Sempre o mesmo sobe e
desce
E o corpo é que
padece
E em ziguezague o
Francisco avança
Como se estivesse na
dança e na contradança
E põe-nos a todos cá
atrás aos esses
Por culpa dos tontos
Gpses
Ai trilhos, trilhos
aos folhos
Por causa de ti
choram os meus olhos
Choram os olhos e os
nossos pés
Pois nunca paramos
nos cafés
Ele é sempre a saltar
e a correr
E nem um pastelinho
de nata se pode comer
Castigo que temos que
penar
Até ao corpo de
cansaço arrebentar
Ai trilhos, ai
trilhos aos folhos
Por causa de ti
choram os meus olhos
Choram os olhos e os
nossos joelhos
Tanto os dos novos
como os dos velhos
E não vale a pena
refilar
Porque se queres
descansar
É melhor ficar em
casa na cama
E não vires sujar-te
na lama
Ai trilhos, trilhos
aos folhos
Por causa de ti
choram os meus olhos
Choram os olhos e as
perneiras
De quem escreve e lê
estas baboseiras
E assim o mistério se
desvenda
Do cavaleiro das
polainas com folhos
É o que por ser
zarolho trazia venda
E nos folhos muitos
piolhos
Viste-o? Não o viste?
É o que ia de bastão
em riste
Quando tu te riste
Da dor que nele
existe
E por fim está tudo
pronto
Para o verso mais
tonto
O do mortal buraco e vénia
Que no intestino faz
a ténia!
Não perca o próximo folhetim
intitulado “Como a selva nunca mais foi a mesma quando o Tarzan com uma tanga e polainas com folhos voou dos
braços da Jane para os da Cheeta” Excitante não é?
(Autor: Amanuense-mor do reino, Jose Esteves)
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