Eu que recusei ser cúmplice do meu par que atirou a toalha ao chão na
Caminhada Ultra Longa das Lezírias, não sabia nem sonhava o que o futuro me
reservava. Acabei por completar mais de 1.000 kms a palmilhar terras lusas com
os NTI (Novos Trilhos Insanos) em 2013, com direito a diploma oficial e moinho
de bronze e tudo.
Por trilhos que muitos considerariam impossíveis, cerrados canaviais e
silvados, cercados, muros, nas mais diversas condições meteorológicas: chuva,
frio, calor, lama, muita lama, atravessando riachos, ribeiros, pontes
periclitantes, lá estive sempre a dar o meu apoio, enfim a cumprir mais do que
a minha função…
A evolução natural deste Grupo de Caminheiros, levou muitos deles a lançarem-se
nas aventuras dos Trails “à séria”, para o qual muito contribuíram: i) os 2
experimentos amadores organizados pelo Grande Insano; ii) as conversas
recorrentes de Caminheiro bastante batido nessas andanças sempre muito solicito
a prestar todos os esclarecimentos e constantemente a exaltar as maravilhas de
tal actividade; e iii) o feito épico de 110 kms por terras castelhanas de
Caminheiro aparentemente “embiasado”.
Foi vê-los a arquitectarem t-shirt, impondo-se decisões quanto ao logo e cor.
Por razões de ordem prática, o amarelo duvidoso deu lugar ao preto com
reflectores prateados.
Tudo pronto para a estreia oficial da Equipa, que ocorreu no passado dia 2
de Fevereiro em Bucelas. A excitação era tal que de véspera procederam ao
levantamento de dorsais, com receio quiçá de não terem tempo para preparar o
equipamento a preceito.
Por falar em equipamento, entro eu de novo. Eu alimentava a esperança de
ficar a descansar após caminhada de sábado e não me meter nesse negócio do
Trail. Nada mais errado, por via das dúvidas e em face do aviso da organização
e das condições do terreno, recomendava-se o uso de bastões.
Na alvorada de Domingo de manhã, foi vê-los chegarem sorridentes, a
exibirem orgulhosamente as suas t-shirts, sapatilhas e licras a condizerem com
o evento, debaixo de um frio quase alpino convidativo a correrias pelos trilhos
a fora.
Equipa Novos Trilhos Trail |
Após o tiro de partida, foi ver a mancha negra a dissolver-se no pelotão,
de acordo com o ritmo e condições que o esqueleto e a força de vontade de cada
um permitem, sempre com a determinação e confiança adquiridas noutras andanças com
os Novos Trilhos.
A mancha negra ao ataque |
Após o km inicial em asfalto, foi o início das hostilidades: estradão
esburacado cheio de poças de água, tal como uma estrada alfacinha que se preze;
era ver os estradistas numa dança que se viria a revelar inútil na tentativa de
evitar a água e sujar os Asics, Salomons XPTO e afins… Um mero aperitivo para a NHA NHA LAND que se seguiria; na primeira descida a bordejar vinhas de Arinto
foi ver alguns concorrentes a perderem sapatilhas no lamaçal e a verem-se
gregos para as reencontrar… (não consta que cortasse a meta, atleta
parcialmente descalço), numa sucessão de subidas e descidas do lado de cá e de
lá da CREL.
Por NHA NHA Land |
Sensivelmente ao km 4, ainda hesitei e numa manobra pouco convicta, sob
olhar atento de um voluntário da Organização, tentei dar por terminada a minha
função e desconjuntei-me em vão. Nada comparável àquele passe de mestre da
parte do meio do meu par nas Lezírias… Lá me recompuseram e foi seguir marcha…
Confesso que até me diverti e senti que fui de grande utilidade nas subidas
mais íngremes, na poupança de articulações nas descidas, na transmissão de
confiança nos lamaçais; até servi de arma de defesa contra um golpe de
ricochete de cana segurada por parte de um atleta mais imprevidente…
E continuou... |
TODOS os elementos da Equipa NT concluíram as respectivas provas, uns percorreram 15kms, outros 25kms, estes mais privilegiados já que tiveram direito a banho de rio e tudo. Por pouco escapou um lugar no pódio… Apesar de alguma dureza da prova, pude testemunhar a satisfação que reinava no seio do Grupo e da festa que faziam à medida que iam chegando
Acho que não estarei a exagerar se afirmar que se assistiu ao nascimento de
novo espécime.
Eis o Homo Trailus Insanus:
Eis o Homo Trailus Insanus:
Composição: Paulo Vieira |
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