Eram só sete mas, tal como os outros, foram magníficos!
Os
outros tinham uma missão: apertar o gasganete aos malvados que pilhavam e
açambarcavam tudo o que pertencia a quem só partilhava a honestidade!
Estes
tinham uma missão: acabar com a malvadez que lhe deu cabo das rótulas dos
joelhos; das dobradiças nas ancas; dos rodízios nos artelhos; dos alhais nas
omoplatas e olear os rolamentos a fim de evitar a gripagem e chiadeira quando
vier a retoma dos km que ainda têm para percorrer.
Não
podia ser de esgalha castanheiro, até porque não os havia, mas também não podia
ser: - uma fofura de passeio né! Tentaram ser activistas equilibrados para não
perderem a pedalada à partida, nem serem apanhados em andamento de CC a ver
montras à chegada. A aventura não foi por ai além. Foi uma aventura simples, onde
conseguiram juntar um pouco de cada coisa do que lhes apetecia fazer, e, assim,
deram a primeira estocada da reentré após um longuíssimo período de
amolecimento corporal.
Foi
mesmo a primeira vez para todos o caminho feito ontem pelos sete magníficos. Até
eu, que por Torres andei enquanto crescia, que tanta vez percorri os km que
separam Torres Vedras de Santa Cruz, que tanto Sizandro conhecia, nunca tivera
uma nesga de massa cinzenta que pensasse na hipótese do rio não ter sido interrompido
ali, naquele ponto onde iniciamos a procissão, e retomasse o seu curso já bem
perto do mar para nele se aconchegar como um filho que chega a casa depois duma
valente borga nocturna.
E
afinal há mais rio! Há mais vinte km de rio para além daqueles que já conhecia.
Um pouco deixado ao deus dará, muito fechado, raramente se vê o seu leito, mas lá
vai rompendo as terras que o ladeiam e que vão sendo aproveitadas para cultivo.
Servem-se da água que ele guarda entre margens, para dar de beber às sementes deitadas
à terra e que brotam airosas exibindo a singela frescura de corpos no limiar da
puberdade que vão dançando agitados pelo vento enquanto o sol lhes dá a cor que
ilumina a planície engalanada pelo rio que por ali passa pachorrento.
Que
se não pense que foi um passeio de anjinhos.
A
escola NT não ficaria defraudada se visse um filme que reproduzisse, com rigor
e clareza sem fotoshops na montagem, tudo o foi acontecendo e dito ao longo das
sete horas que durou a expedição. As imagens não são censuráveis, mas muito do
que foi dito não pode aqui ser reproduzido porque a página não tem onde colocar
a bolinha vermelha e o texto ficaria cheio de piiis.
Ficou
a faltar a foz. Correr por um rio e depois não ver a cama onde ele se deita após
tanta terra desventrada, não fica bem na prateleira onde vamos acumulando as jóias.
É como abrir um queijo suíço e não encontrar um só buraco para dar prova de que
é mesmo suíço e, no entanto, o rótulo diz “made in switzerland”. Os sete não dobraram
o cabo da preguiça para poderem chegar à foz do Sizandro e, no entanto, podem
provar que calcorrearam mais ou menos vinte km das suas margens, tá no rótulo.
Mas
não faltou Santa Cruz. É certo que tínhamos de lá chegar, até porque era de lá
que partia o autocarro de regresso, mas, Santa Cruz está para um caminheiro de
verão sapando as arribas costeiras como os Himalaias estão para um caminheiro de
inverno superando as agruras do gelo: o frio é idêntico mas Santa Cruz tem mar e
os Himalaias não.
E
de Santa Cruz para Torres Vedras foi um pulinho. Acomodados no autocarro, mais
uma vez não deixamos saudades aos restantes passageiros. Eramos menos do que em
outras ocasiões, mas notava-se um alivio em cada cliente que saia. Houve quem saísse
antes da paragem onde previra terminar a viagem e houve quem avisasse, ao sair,
quem supostamente ia entrar aconselhando-os a não o fazer pois o autocarro
tinha sido invadido por figuras estranhas e mal comportadas.
Mas
nem todos os passageiros nos hostilizaram. Connosco seguia um casal equipado à
caminheiro com bastões e tudo e que se divertia e partilhava das mesmas
alegrias. Tinham, os dois, uma particularidade: eram extra terrestres. E digo-o
com tanta convicção porquê? Em primeiro lugar juntaram-se a nós. Isto em si já
é estranho, só alguém vindo de Kripton ou de outro planeta do género, se deixa
contagiar pela raça NT. Em segundo contaram uma historia muito estranha que só
alguém ao nível do Super Homem poderia ter vivido. A história é esta. Depois de
satisfeita a sua curiosidade sobre a nossa aventura, contaram-nos que tinham
feito o mesmo caminho, com passagem pela foz, em… tan tan tan tan… três horas!
TRÊS HORAS!!!??? Pensa-mos todos bem alto… então nós demoramos sete para aqui
chegar e nem à foz fomos!!!!
Eu
não acredito em encontros de terceiro grau com Aliens mas lá que existem existem.
Para a próxima que for para aqueles lados, levo um pedaço de kriptonite, caso
os encontre, boto-lhe a pedra no bolso a ver se com o peso se lhes acaba a
leveza e dão passadas mais lentas.
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